Célebre cientista político Olivier Duhamel é acusado de incesto na França
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A jurista Camille Kouchner publicará na quinta-feira (7) um livro no qual acusa seu padrasto, um reconhecido constitucionalista e cientista político francês, de ter agredido sexualmente seu irmão gêmeo quando ele tinha apenas 14 anos. Depois de tomar conhecimento de fragmentos do depoimento, a Procuradoria de Paris abriu, nesta terça-feira (5), uma investigação por "estupro e agressão sexual" contra Olivier Duhamel, um verdadeiro escândalo na França, onde o especialista de 70 anos participa com frequência de programas de TV e congressos.
Filha de Bernard Kouchner, ex-ministro das Relações Exteriores da França e um dos fundadores da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), casado com a ex-apresentadora da TV francesa Christine Ockrent, a jurista Camille Kouchner conhece bem os bastidores das colunas sociais do país.
O Ministério Público de Paris abriu nesta terça-feira (5) uma investigação por "estupro e agressão sexual" contra seu padrasto, Olivier Duhamel, após a publicação de trechos do livro da advogada, que o acusa de ter agredido sexualmente seu irmão gêmeo adolescente no final dos anos 1980, conforme anunciado pelo procurador de Paris, Remy Heitz.
Horas antes, o renomado cientista político renunciou a todos os cargos que ocupava, inclusive o de presidente da Fundação Nacional de Ciência Política (FNSP).
“Sendo alvo de ataques pessoais e desejando preservar as instituições em que trabalho, pedi demissão de minhas funções”, escreveu no Twitter. Duhamel também apresenta um programa na rádio Europe 1 e escreve crônicas para o canal de TV do Senado francês e para a rede LCI.
O jornal Le Monde e a revista semanal L'Obs revelaram na segunda-feira (4) trechos de "La Familia Grande" ("A Grande Família", em tradução livre), da Editora Seuil. “Eu tinha 14 anos, sabia e não disse nada”, escreve Camille Kouchner, hoje uma professora de Direito de 45 anos.
Ela e seu irmão são filhos do ex-ministro e médico de organizações humanitárias Bernard Kouchner e da professora de Direito Evelyne Pisier (falecida em 2017), que teve um segundo casamento com o cientista político Olivier Duhamel.
Na publicação, Camille Kouchner afirma que as agressões sexuais aconteceram durante vários anos.
"Muitos sabiam"
“Meu livro conta quantas pessoas sabiam disso”, disse a autora em entrevista à revista L'Obs. “Claro que pensei que meu livro poderia parecer obsceno devido à notoriedade da minha família. Mas aí eu disse: é exatamente por isso que você tem que fazê-lo”, acrescentou.
Questionado pelo Le Monde e pela L'Obs, Olivier Duhamel disse que "não tinha nada a dizer" e não quis reagir à informação.
A FNSP, responsável pelas orientações estratégicas e pela gestão administrativa da prestigiosa universidade francesa Sciences Po, disse ter tomado conhecimento da demissão de Duhamel "por motivos pessoais".
O silêncio de uma "família"
O testemunho de Camille Kouchner é também a denúncia de uma época e de um círculo social. “La Familia Grande”, em espanhol no título original, refere-se à geração de intelectuais parisienses de esquerda marcados pelo ideal revolucionário de movimentos na América Latina.
Evelyne Pisier, a mãe dos gêmeos, partiu para Cuba em 1964, onde, como aponta o jornal Le Monde, "ela viveu um idílio de quatro anos com Fidel Castro". Ela tomou conhecimento das agressões sofridas pelo filho, mas preferiu proteger seu segundo companheiro do que denunciá-lo.
Da mesma forma, o livro mergulha no ambiente de permissividade que se seguiu ao Maio de 68 francês, onde qualquer obstáculo ao prazer era sinônimo de repressão.
O depoimento também lembra a publicação, há um ano, de "O Consentimento", de Vanessa Springora, onde a autora aborda a tolerância do mundo intelectual parisiense com o abuso sexual de menores – a começar pelo dela – nos anos 1980.
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